domingo, 11 de junho de 2017

Brasília, anos '70: bomba, bomba!

 As violentas manifestações de protesto e os atos de vandalismo exacerbado estimulados por movimentos de esquerda, acontecidos recentemente em Brasilia, me lembraram as ações de contestação à ditadura que pipocaram pelo Brasil durante o governo do General Médici, contrapostas à evidente simpatia que o mesmo despertava em segmentos das classes média e popular. Enquanto a esquerda praticava atentados, com mortes de inocentes, o general responsável pela repressão e mortes de subversivos era aplaudido no Maracanã, onde acompanhava os jogos do Fluminense. O que se vê hoje é a esquerda ainda desvairada e radical, pra não dizer incendiária, sem o contraponto de políticos dispostos a arrostar as massas no Maracanã, desde que Dilma e Lula foram gentilmente convidados a tomar caju, durante a Copa do Mundo de 2010. 
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O vice-presidente de Médici era o almirante Augusto Rademaker, figura de prestígio nas Forças Armadas e que hoje dá nome a belonave de nossa Marinha de Guerra. Por falta de local mais apropriado, Rademaker ocupou com seu gabinete todo o vigésimo e último andar do então prédio sede do Banco do Brasil, um dos primeiros edificados na Capital e materialização do princípio universal do onde vai o dinheiro todos vão atrás. Era uma construção sem maiores luxos mas bem acabada, apesar de ter sido projetada e erigida "no ritmo de Brasília" - o que na época podia significar muitas coisas. Por coincidência, a sala do almirante ficava exatamente em cima da minha, localizada no 19° pavimento, e como ele eventualmente convidava funcionários do banco a compartilhar o elevador privativo, acabei por conhecê-lo pessoalmente e a trocar cumprimentos formais. Era um sujeito simpático, não há como negar.
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Certa manhã houve um alarme de ataque terrorista ao prédio, mais especificamente ao gabinete da vice-presidência da República. A ordem de evacuar o edifício imediatamente, sem usar elevadores foi precariamente disseminada por telefone e por agentes que percorriam os pavimentos, tudo inacreditavelmente improvisado, especialmente se considerado o clima de conflito imperante. As escadas, embora espaçosas, serviam de comunicação entre os saguões dos elevadores e entre eles e os corredores internos, eram abertas e ficaram apinhadas de gente que descia ansiosa, muitos justamente aterrorizados. Desabei pelos dezenove pavimentos em poucos minutos que me soaram como horas, e ao conseguir finalmente deixar o prédio com um grupo final de colegas aliviados constatamos estarrecidos que uma construção daquele porte, que inclusive acolhia parte de um dos poderes da República em época socialmente conturbada, não dispunha de escada contra incêndio e pânico! O alerta revelou-se falso, mas a insegurança que ensejou foi verdadeira.
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Tempos depois, ante as evidências de que o incidente poderia ter tido trágicos desdobramentos, foi instalada no prédio uma escada de incêndio metálica externa, nos moldes daquelas existentes em imóveis antigos de Nova York, mas considerando a altura do edifício, a perspectiva de sua utilização era simplesmente aterrorizante, e logo que possível o edifício foi desativado e deixou de acolher seções do banco. Ao ver as imagens dos ministérios queimando em Brasília, lembrei-me do incidente da bomba, e tive uma dúvida: será que tinham escadas apropriadas?... 


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