segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

Brasília, anos '70

O presidente do banco era um político gaúcho de muito prestígio, não só entre seus pares como frente aos governos militares da época.  Tinha sido alçado ao cargo, entre outras razões, pelas suas fortes raízes na agricultura, setor onde a entidade sob sua direção era então líder absoluta e quase única operadora, e cultivava com carinho sua fama de  bom administrador avesso a liberalidades financeiras.

A época era de plena campanha salarial, discreta e sem muitos arroubos sindicais em face das restrições às livres manifestações públicas então vigentes.  As negociações seguiam restritas ao encaminhamento da pauta de propostas e reivindicações pela diretoria do pessoal, sempre sob orientação prévia e informal do presidente em rápidas audiências.

Em uma dessas ocasiões, quando se avaliava a conveniência não só de um reajuste geral, mas que esse fosse substancial, o presidente conduziu o grupo até a larga janela da sala, de onde se avistava o estacionamento dos funcionários coalhado de reluzentes carros novos brilhando ao sol de Brasília. Com um sorriso maroto,  apontou para o parqueamento e encerrou a reunião indagando:

- Olhem lá para baixo. Vocês acham que essa turma precisa de aumento?

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