quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

O NE Guanabara


O NE Guanabara, veleiro de três mastros foi construído em estaleiros de Hamburgo e lançado ao mar em 30 de Outubro de 1937, para desempenhar funções como navio escola da Marinha alemã. Ao final da Segunda Guerra Mundial, foi capturado pelas forças aliadas dos Estados Unidos da América, sendo vendido ao Brasil em 1948 por 5.000 dólares. Foi incorporado à Marinha do Brasil em 27 de Outubro do mesmo ano, para ser  utilizado como navio escola entre os anos de 1948 a 1961, quando foi vendido para a Marinha Portuguesa, que o rebatizou como NRP Sagres. Totalmente reformado e modernizado, continua em plena atividade divulgando a Cruz de Malta pelos oceanos do mundo.

NE Guanabara em 1953

Era uma embarcação espartana, tendo seu desenho e construção se pautado pela fidelidade aos primórdios da navegação a vela. Seu motor tinha força limitada e era coadjuvado apenas por geradores de eletricidade. Tudo que implicasse esforço a bordo - cabrestantes das âncoras, máquinas dos lemes, manobra dos mastros e velas - era movido pela força física e sincronizada da tripulação, como nos velhos tempos das galeras cabralinas.  Os marinheiros, nós inclusive, escalavam as enxárcias e se equilibravam sobre cordas nas manobras nas vergas para caçar as velas, sem qualquer equipamento de segurança.  Considerando que o mastro principal tinha quarenta e cinco metros de altura do convés ao topo, o equivalente a um prédio de quinze andares, não eram fainas agradáveis...


Trabalhando nas vergas


As atividades a bordo eram divididas em quartos de serviço, quatro horas cada turno em funções alternadas, e uma delas era a de vigia no cesto da gávea, ou seja, ficar todo esse tempo balançando a uns 30 metros de altura numa espécie de pequena varanda no terço do mastro, vigiando o mar numa era pré-radar. À noite, então, quando o horizonte se confunde com o céu, além de sinistra era totalmente inútil, exceto quando cruzávamos com alguma rara embarcação bem sinalizada. Mas havia quem vislumbrasse ali um bom local para cochilar.

Jofre, Laumar, Luis e Moniz

Outro quarto muito pouco popular era o de navegação, ocupado com medições (o navio ainda usava odômetro de barquinha, uma raridade!), plotagens com o sextante,  consultas a tabelas e tábuas de navegação,   e a transposição desses dados para a carta náutica usando réguas paralelas para definir, com larga margem de incerteza, a posição do navio no mar. Tudo aquilo que hoje o GPS informa instantaneamente era lenta e sucessivamente levantado, somado e calculado a intervalos regulares na atividade muito propriamente denominada navegação estimada.

Sorte minha que gostava desse trabalho continuado  no camarim de navegação, onde o tempo passava rápido,  e detestava a monotonia aérea do cesto da gávea, pois sempre conseguia fazer uma troca de funções com os preguiçosos da hora!  


O Guanabara navegando  a todo pano 


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