domingo, 30 de janeiro de 2011

De velas e veleiros


Sempre fui fascinado por veleiros de qualquer porte.  A perspectiva de domar uma das mais imprevisíveis forças da natureza, de utilizar sua energia descontrolada para alcançar um objetivo predeterminado, de navegar em silêncio apenas quebrado pelo ruido das ondas lambendo o casco da embarcação, de sentir o afago da brisa no rosto é indescritível.  Somente quem experimentou entende o alcance dessa experiência.

Essas divagações afloraram ao conhecer um interessante video exibido pela TAM em seus vôos em que é apresentada ao público civil uma das mais singulares embarcações da Marinha Brasileira, o Navio Veleiro "Cisne Branco". Digno sucessor de outros veleiros famosos do século passado,  os navios escola "Almirante Saldanha" e "Guanabara", a nova embarcação tem atribuições de representação do país no exterior,  retomando com elegância e atualização tecnológica a tradição de quase todas as marinhas do mundo de reverenciar seu passado com os recursos do presente.


Navio Veleiro Cisne Branco

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Nunca embarquei no Saldanha, um dos mais bonitos tall chips de sua época, já que a missão desse veleiro de quatro mastros era realizar viagens de circumnavegação com os guardas-marinha recém formados, desde sua incorporação em 1934  - ano do meu nascimento - até dar baixa dessa atividade em 1954, meu último período na Escola Naval. Pode-se dizer que convivi com esse navio nos primeiros vinte anos de minha vida, embora à distância, e como seu fiel admirador senti como se me tivessem amputado os membros quando foi desarvorado, perdendo seus imponentes mastros para ser transformado em navio hidrográfico.



NE Almirante Saldanha chega ao Rio, 1936


Embarquei no Guanabara em meu último ano como aspirante na Escola Naval, em pequena viagem de instrução a Vitória (ES),  quando  já estava amortecido meu estusiasmo com a carreira militar e a romântica paixão por veleiros prestes a ser confrontada com a dura realidade das fainas a bordo. Foi um cruzeiro de surpresas e descobertas,  em que superei fisica e mentalmente tanto o desafio das entediantes rotinas do serviço como o das  perigosas manobras no mar, para ao final consolidar a convicção de que aquela, definitivamente, não era a minha vocação profissional. 



NRP Sagres, ex-NE Guanabara 

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