domingo, 16 de janeiro de 2011

A Casa de Ingrid




A residência em Mangaratiba ocupava o centro de espaçoso e bem cuidado terreno, ajardinado com capricho, e tinha o muro da frente praticamente no mar, lavado pelas ondas das marés altas. Com dois pavimentos, construída com esmero nos menores detalhes e decorada internamente com muito bom gosto e conforto, era discreta por fora e tinha sobre a porta principal, no pequeno hall de entrada, uma placa artesanal de madeira onde a inscrição - Casa de Ingrid - fora entalhada.


Pertencia a um interessante casal multinacional de meia idade, a esposa portuguesa de nascimento e o marido norueguês, que se comunicava com carinho e desembaraço em um terceiro idioma, o inglês. Ambos vinham de casamentos anteriores, aparentavam ser da mesma faixa etária, e não tinham filhos em comum. Ela se chamava Maria, e não tinha descendentes; ele, Arne, era pai de duas moças, nenhuma delas de nome Ingrid e estavam vendendo o imóvel por cansaço e desinteresse das filhas pelo local.

Retornando à casa sozinho, dias depois, reparei em um texto emoldurado afixado na parede da saleta de entrada. Escrito em bom inglês e assinado por “Maria”, era um sucinto e comovente relato da saga de uma jovem mãe de cinco filhos pequenos, que conduziu a família a um porto seguro após seu marido, um comandante da marinha mercante norueguesa, perder seu navio, toda a sua tripulação e a própria vida em trágico naufrágio nas tormentosas águas geladas do Mar do Norte. Segundo o escrito, um dos filhos se chamava Arne, e a jovem mãe, Ingrid. O nome dado à residência, e sua construção desafiadoramente voltada para o mar de tristes lembranças eram, ao mesmo tempo, uma tocante homenagem a uma mulher de fibra e uma superação das brumas do passado.

 
Tempestade no Mar do Norte: duas embarcações,
um pesqueiro e uma corveta, em apuros!


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